sexta-feira, 27 de setembro de 2013

(observar e absorver)

A vida está lá fora
Há vida nos muros,
Pelos caminhos

A vida está aqui dentro
Mas há vida em contato,
Tudo integrado

Contato ainda que mudo
Mas que se faça
Fazer ou(vir)

domingo, 14 de julho de 2013

De vegetariana a vegana: causas e causos.

“A comida sacia o corpo, mas só o alimento sacia o espírito”, disse Carla Ioost*, culinarista vegana que conheci em novembro do último ano. Cigana por natureza, Carla tem um pé na estrada, mas se encantou pelas terras e pela gente da Paraíba quando veio, em ocasião do Festival Mundo, ministrar um workshop sobre alimentação consciente. Desde então, armou sua barraca por aqui, encontrou seu canto – e por aqui tem espalhado seu canto cigano, cheio de amor e boas vibrações.

Ela é uma das figuras essenciais da nova fase que desabrochou – ou em que desabrochei – na minha vida. Nos conhecemos em uma época de mudanças para mim (época em que me tornei vegetariana), quando o universo se apresentava como se fosse tudo novo de novo, como para um recém-nascido, e quando eu descobri que não existe tempo, ainda que cada dia deva ser vivido como se fosse único.

Apesar da percepção que se revelou em mim e do tanto que aprendi com pessoas incríveis das quais me aproximei no período (Carla é só um dos nomes de uma lista imensa), nesse tempo até aqui me perdi diversas vezes pelo caminho, me afastei de pessoas essenciais e falhei em muitos de meus propósitos. Esta semana, ao folhear um livro, encontrei uma citação que me caiu como uma luva: “Perder uma ilusão torna você mais sábio que encontrar uma verdade”, de Ludwig Borne.

É libertador perceber que nada tem de ser perfeito, linear e que não é só humano ter altos e baixos, grandes revelações e grandes desilusões, mas é um mecanismo da própria natureza, que no final das contas faz que tudo seja como deve ser. Por isso, decidi deixar para lá as frustrações e começar (ou recomeçar) sem medo a trilhar o caminho para o que eu considero ser uma vida mais plena e mais coerente.

Você deve estar se perguntando onde entra a comida nessa história toda. Bem, eu posso lhe dizer que ela é causa e consequência de tudo. E nem se preocupe que não vou discursar sobre nosso instinto de sobrevivência e sobre como tudo que construímos e nos tornamos se deu a partir da nossa luta diária por alimento. Deixo essa parte para historiadores e antropólogos. Mas uma coisa é certa: a comida move o mundo e nós somos mero fruto do que nos alimenta.

Para não alongar mais a história, lá vai o meu ponto de partida na busca pelo equilíbrio – o qual compartilho com vocês por acreditar que, como parte elementar e essencial da vida, o ato de se alimentar deve, sim, ser encarado como um ato político e, portanto, devemos buscar fazê-lo da maneira mais consciente possível.


Meu primeiro dia como vegana. Mais informações sobre vegetarianismo, meus avanços e dificuldades nos próximos capítulos. :)




domingo, 26 de maio de 2013

Avante!



Um dia ouvi sobre civilizações antigas, muito evoluídas, e sobre sua sabedoria ancestral. Daí me meti a escrever sobre o ciclo da vida, sobre como se reconstroem os homens, geração a geração. 
Um dia escrevi sobre amores perdidos, corações doídos e sobre superação. Os dias continuam, os instantes tilintam no vai-sem-vir do ponteiro do relógio. O coração continua a pulsar. Os pensamentos vêm e se vão. Vez ou outra os descrevo, quase sempre me esqueço. E continuo aqui, com um segundo a menos a cada palavra e uma palavra a mais a cada segundo. Deixo esses delírios me reconstruindo sobre o que o tempo destrói. 

"Não pare nunca", me disseram. Porque a vida é corda bamba.  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Preto no branco

Na vida nada é preto no branco. Logo, logo a gente se dá conta. Logo depois de refazer os pedacinhos que foram despedaçando-se pelo caminho. 

Por mais que de desilusão se viva, dela nasce a força. A força íntima. 

A força vem da dor. Da hipertrofia do músculo à hipertrofia da alma, a força vem da dor. Pois que na natureza tudo se encaixa em perfeita simetria, mas nada de graça. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Consolação



Mirei teu rosto por tempo demais para o descaso que eu fingia. E ainda que tenha sido incisivo o olhar que de minha lágrima caía, me pareceu que só eu te via. E que teu rosto fosse talvez um desenho abstrato que eu precisasse decifrar. 

Silenciei por tempo demais. E quando finalmente estavas aqui, eu escolhi para dizer exatamente as palavras que eu não queria. Talvez na tentativa de calar aquele silêncio agudo. E como não poderia deixar de ser, entre os espasmos do silêncio que só tua presença corrompia, explodiram em mim aquelas palavras que minha boca repetia: "Eu acho que te amarei para sempre". 

Com a lágrima tímida que veio ao canto do meu olho, veio também a chuva acalentar meu pranto abafado. O céu, que com tantas estrelas bonitas, em tua ausência, me fazia companhia, chorava por nós comigo. Lavava nossas feridas. Chovia a água que fazia escorrer pelo ralo nossas palavras não ditas. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Você, inacabado


Você

Você que vem e vai
Que veio, não voltou mais
Por onde você anda?

Você
Você doce e amargo
Que de um só trago
Traz e leva tudo

Você que não tem meio termo
Por onde você anda?

Você,

Ciências Políticas


Lá estava ela, deitada com Maquiavel

Fumando um cigarro depois de uma noite acordada
Seria a última vez, estava decidida
"Já não me basta a conduta do Príncipe"
E desfrutou mais um trago daquele instante em Florença
"Já não me apetece a Fortuna, nem o sabor de Virtú"
Vestiu-se, a boca ainda amarga
Talvez pegasse o último trem em direção ao desconhecido
Deixou na cama o defunto, esgotado
E a luz acesa, caso outro curioso o quisesse visitar

A Bukowski

Bukowski, te compreendo
Da lama 

Me reflito no teu sofrimento


E choro 

Bukowski, esse teu argumento


É lágrima imunda derramada

Por este mundo de mazelas vis


Mas este mundo que tu vês

E vi

Não há de ser só


Depois que a lágrima cair

Daqueles olhos que veem,

Deixes cair daquele que transcende


Do olho terceiro, incólume

Verás, talvez,

Não há de ser só...

Poesia para o pianista

Não que não fosse teu
O meu amor

Pois que não era meu também
Não era meu e estava oculto
Não era meu e, mesmo assim,
Me dói

Não que não quisesse os teus abraços

Não que não fossem quentes os teus braços
Não que não tivesse me embalado
A tua música


Não que não fosse teu

O meu sorriso
Pois que estive presa
No limbo dos desiludidos
No limbo do descaso
Que fere


E agora, antes fingido de morto,

O amor que não era meu
Me foi lavrado, imposto
E fere


E agora, a música experimentada,

Que nunca foi minha
Me foi negada, não declarada
E fere


E agora?

Reminiscência



Sob céu estrelado corríamos
Como clandestinos,
Sem fio que nos cobrisse,
No compasso do mar.


E daquele instante mudo
Que fizemos doce, onírico,
Dentre tudo que se fez eterno,
Digo: foi meu favorito.

Qui sapit…


Ninguém deveria precisar estar a mil por hora o tempo todo, produzindo, reproduzindo, sendo cobrado. Às vezes simplesmente não se está no pique. E esse “às vezes” pode ser por um dia, uma semana, quiçá um mês inteiro… Quem poderá dizer que não é real o que se sente? Quem trará aquela velha injeção de moral para aplicar nestas veias onde corre o teu sangue congelado?
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Do alto de um arranha-céu:
- Vês todos aqueles carros desgovernados na avenida? Eles não param nunca.
- E aqueles carros estacionados ali?
- Não sabes que o trânsito continua? As pessoas entram em casa aos tropeços, fazem amor com um dos olhos no relógio, ligam a televisão quando precisam descansar. Assim o carro continua em movimento e ninguém precisa desligar a máquina. 
- Desligar a máquina?
- Às vezes é preciso parar e concentrar-se, para então retomar o rumo certo da estrada, sem atropelos. Para isso é preciso ter coragem, porque ninguém vai esperar que você passe no ritmo que lhe convém.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

HD externo



Você recorda que eu sempre tive memória fraca e acha graça.

Eu me pergunto em que momento isso deixou de me fazer rir. Daí lembro que a única parte boa de não lembrar de quase nada era ter a sua memória comigo, enquanto você se ria e me beijava a testa esquecida. Sabe o HD externo que você sempre quis? Eu tinha um que segurava a minha mão.

Até então, achei que meus lapsos de memória me seriam muito úteis em sua ausência. Isso porque a gente tem a impressão de que basta apagar os momentos felizes, basta esquecer aqueles detalhezinhos que nos inspiravam amor, para não morrermos de saudade. 

E por muito tempo não lembrei de quase nada de nós dois. Às vezes me vinham flashs à cabeça, sem que eu soubesse identificar hora, lugar ou por que sorríamos, por que fazíamos tantas promessas tolas... E mesmo assim, sem saber o porquê, eu sentia gelar o peito por efeito daquelas lembranças borradas. 

Nem o tempo, nem o esquecimento, sabem driblar essa dorzinha que se mantém, inexorável, às vezes corrosiva, às vezes - quase - imperceptível. Essa dorzinha conhecida entre os poetas por saudade. 

Joguei em você aquelas palavras presas na garganta. Joguei porque preciso respirar. Se eu não lembro por que te amo, vou esquecer também por que fugi de ti. Vou te pedir que fique mais um pouco, nem que só para me contar sobre quando éramos felizes. Sua memória nunca falhou comigo. 



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Poesia não é prosa

Todos os dias
Quando o Sol me acorda
Ou se a Lua me vela

Todos os dias te respiro.

Inspiro
Quase te ligo
Quase te procuro
Quase te digo
Tudo isso que quase faço

Expiro
E na vontade que guardo
Quase te beijo
Quase te abraço

É muito quase para pouco de nós.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Epifania


22:22

O relógio digital marca a hora certa na torre enlatada.

O rapaz fardado desenlaça o tênis para descansar os pés no chinelo enquanto espera a condução.

Na faixa de pedestres o cardume desliza, delirante, contra o tempo.

Eu sujo a mão com Bic para não deixar escapar o pensamento. 

No cinema vi luxo, graça, sucesso. Nas ruas vejo cansaço.

Aquilo ali era um Lamborghini? Definitivamente é um Lamborghini parado no sinal vermelho, com uma moça elegante gargalhando no banco do passageiro.  Também tem luxo, graça e sucesso na rua. Mas aqueles faróis são como holofotes para o menino descalço fazendo malabares sob o semáforo.

O menino sorri um sorriso frouxo, estende a mão.

O motor da Lamborghini ronca.

Se eu pudesse faria um filme sobre o garoto e seus malabares, com holofotes de verdade, com plateia que prestasse atenção. Ou com semáforo e tudo, para que desse no tino de quem dirige Lamborghinis ou gerações de Unos que esse menino existe e, como ele, milhões. Mas no cinema também já tem meninos descalços no asfalto, com malabares, sem malabares, às vezes carregando uma 762.

Enquanto isso menino e Lamborghini se enfrentam no momento vermelho. Até que chegue o momento verde e um escape do outro.

E da bruta realidade? Escapa quem?