sexta-feira, 27 de março de 2015

Anicca e a beleza do buraco negro.



"Anicca (traduzido do páli, "impermanência". Lê-se /anit-txá/.) é um dos conceitos essenciais para a descrição do universo segundo o budismo (junto com dukkha - sofrimento - e anatta - não eu -, compõe as três marcas da existência). Diz respeito à constante mutação de todas as coisas que compõe o universo".

Tive bastante tempo para refletir sobre anicca em minha vida durante dez dias entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015. Dez dias em completo silêncio em um retiro de meditação Vipassana, em uma cidadezinha a 30 minutos de Brasília. Dez dias completamente isolada de tudo que me era familiar - porque em um momento como esse a gente percebe o quanto não é familiar para si mesmo. Um mergulho profundo nesse "eu" que você pensa que conhece. Mas eu não tenho a convicção se posso traduzir essa experiência em palavras...

Nos últimos cinco ou seis anos, aparentemente, me tornei mais sensível à mudança em minha vida. Talvez porque na maior parte desse período ela tenha implicado em um sofrimento tremendo. Sim, o sofrimento existe. É esta a primeira nobre verdade budista. E sim, há um caminho para libertar-se dele: quarta nobre verdade. Mas até realizá-lo, há sofrimento. Há de haver lapidação!

Mas esta não é uma história triste. 

Sim, há mudança. Sem parar, sem parar. Escolhas. A cada momento, escolhas. Escolhas que nos revelam. Quando a gente compreende que a vida existe por que há mudança, e que tudo, tudo acontece pela evolução, não existe mais arrependimento.

Agora eu vejo: há tanta beleza nesses momentos de incerteza, nessa fase que parece mais um buraco negro, em que a gente se vê diante de um universo de possibilidades, e ao mesmo tempo está - ou parece estar - sobre lugar nenhum. É a beleza da busca, da descoberta. Aqui, o caminho é a meta. E é a cada momento que a gente se descobre. A gente se descobre a gente à medida em que a gente se inventa. Ou, em um sentido mais profundo, à medida em que a gente desiste de querer se inventar. E passa a ser. 

Não me preocupo mais com planos para os próximos anos. Me ocupo com o que tenho agora. Tenho, sim, inclinações, mas aprendi - venho aprendendo - a estar a cada instante atenta, porque o próximo passo quem dita é o Coração. E o tempo do Coração é somente este momento.

Venho buscar compartilhar alguns dos caminhos que vêm se abrindo para mim nesse processo de autodescoberta, que começou como um súbito momento de iluminação (porque "no fundo do poço há uma mola"- e uma lanterna) e certamente durará para sempre. Até que o "sempre" não seja mais um mistério.

É essencial para mim compartilhar, reconhecendo no processo mais que erros ou acertos, mas a força da Vontade que me faz continuar, e as sutilezas do Caminho, mais que o vislumbre da Meta. Quem sabe há alguém por aí que se espelhe, se reconheça... E que nessa troca, a gente se fortaleça.

Namastê! _/\_



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