quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esperança

Foto crua, tirada por mim em meados de 2010.

Era um dia nublado. O céu era de um azul como do céu de dias mornos em cidade morna. Ele estava deitado na areia da praia, a mente em maré de ideias antigas.
(Tudo antigo, tudo antigo. Estou cansado. Cansado de tantos pensamentos já pensados. Tantas histórias repetidas, tantos rostos conhecidos entre os estranhos que passam... Ninguém que me acrescente algo, sequer uma piada engraçada ou qualquer coisa que não seja a despedida. E depois de fazer tantos amigos, a gente senta em frente ao mar e se dá conta da solidão, refletida pela imensidão das águas, como um espelho que nos escancara a verdade. Só. Sozinho. Finalmente – ou dolorosamente – só. Que restou de tantas conversas? A vida dá voltas, é o que dizem. E é preciso maestria para acompanhá-la em rodopios. Tantas voltas que se torna cada vez mais difícil manter-se de pé. E assim ela segue, como um redemoinho, engolindo os passarinhos cujas asas cansadas desistiram de voar. É cômico pensar em como tudo o que penso compreender hoje cabe na caixinha de madeira em meu criado-mudo. E há muito tempo não espio o que guardei lá dentro, a garantia ilusória de que alguma coisa eu compreendo...).
Então se fecharam os olhos que alternavam languidamente entre a visão das ondas e das nuvens. Ele finalmente adormeceu.
xxx

Sensação de frio. Algo gelado envolveu seus pés descalços. Algo inconstante. Só depois de alguns minutos abriu os olhos. Mesmo depois de perceber onde estava, permaneceu imóvel. Por quanto tempo dormira? Dez minutos, uma hora? Há muito tempo não acordava tão bem. Estranhamente, sentiu-se ainda melhor ao ver o braço esquerdo nu, ao sentir os bolsos vazios. Não precisaria mesmo do relógio, que o oprimiu por tanto tempo. Agora ele poderia sentir alguma paz. Realmente sentir aquele momento. Alheio ao tempo, mas completamente consciente de tudo ao seu redor. Consciente de si mesmo. Por um momento, nada tinha significado e, por isso mesmo, tudo fazia sentido. Já ia embora, quando seus olhos se detiveram em uma mancha vermelha na areia.  Hesitou por um instante antes de levar suas mãos até o que parecia ser uma rosa, pétalas aveludadas semienterradas.
(Isso não estava aqui antes).
Ele tinha certeza. Estivera deitado ali por tanto tempo antes de adormecer... Não havia ninguém por perto. Uma rosa simplesmente não brota da areia.
(Mas quem..? Não importa. Não será a primeira pergunta sem resposta. Nem a última).
Não pôde evitar espiar as curvas da praia vazia antes de caminhar até a escada mais próxima que levasse à civilização. No bolso, uma rosa vermelha.  

3 comentários:

  1. Belo texto. Por acaso, hoje, enquanto cheguei sem avisar a um barco ancorado no mar do Bessa, deixado ali por seu dono, pensei no porquê de sentirmos sozinhos. Talvez sejam as nossas cobranças, as nossas referências, pois sabemos do que o verdadeiro Amor é capaz... Continuemos nos amando!

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  2. Obrigada, Daniel. Fico feliz por você ter gostado. É verdade, engraçado nos sentirmos sozinhos às vezes, mesmo quando conscientes de que somos um. Como diria Christopher McCandless, "a felicidade só é real quando compartilhada"... Mesmo plenos, em paz, na imensidão de nós mesmos, que seríamos sem dar e receber sorrisos... Sem dar e receber amor?

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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