Foto crua, tirada por mim em meados de 2010. |
Era um dia nublado. O céu era de um azul
como do céu de dias mornos em cidade morna. Ele estava deitado na areia da
praia, a mente em maré de ideias antigas.
(Tudo antigo, tudo antigo. Estou
cansado. Cansado de tantos pensamentos já pensados. Tantas histórias repetidas,
tantos rostos conhecidos entre os estranhos que passam... Ninguém que me
acrescente algo, sequer uma piada engraçada ou qualquer coisa que não seja a
despedida. E depois de fazer tantos amigos, a gente senta em frente ao mar e se
dá conta da solidão, refletida pela imensidão das águas, como um espelho que
nos escancara a verdade. Só. Sozinho. Finalmente – ou dolorosamente – só. Que
restou de tantas conversas? A vida dá voltas, é o que dizem. E é preciso
maestria para acompanhá-la em rodopios. Tantas voltas que se torna cada vez
mais difícil manter-se de pé. E assim ela segue, como um redemoinho, engolindo
os passarinhos cujas asas cansadas desistiram de voar. É cômico pensar em como tudo o que
penso compreender hoje cabe na caixinha de madeira em meu criado-mudo. E há
muito tempo não espio o que guardei lá dentro, a garantia ilusória de que
alguma coisa eu compreendo...).
Então se fecharam os olhos que
alternavam languidamente entre a visão das ondas e das nuvens. Ele finalmente
adormeceu.
xxx
Sensação de frio. Algo gelado envolveu
seus pés descalços. Algo inconstante. Só depois de alguns minutos abriu os
olhos. Mesmo depois de perceber onde estava, permaneceu imóvel. Por quanto
tempo dormira? Dez minutos, uma hora? Há muito tempo não acordava tão bem.
Estranhamente, sentiu-se ainda melhor ao ver o braço esquerdo nu, ao sentir os
bolsos vazios. Não precisaria mesmo do relógio, que o oprimiu por tanto tempo.
Agora ele poderia sentir alguma paz. Realmente sentir aquele momento. Alheio ao
tempo, mas completamente consciente de tudo ao seu redor. Consciente de si
mesmo. Por um momento, nada tinha significado e, por isso mesmo, tudo fazia
sentido. Já ia embora, quando seus olhos se detiveram em uma mancha vermelha na
areia. Hesitou por um instante antes de
levar suas mãos até o que parecia ser uma rosa, pétalas aveludadas
semienterradas.
(Isso não estava aqui antes).
Ele tinha certeza. Estivera deitado ali
por tanto tempo antes de adormecer... Não havia ninguém por perto. Uma rosa
simplesmente não brota da areia.
(Mas quem..? Não importa. Não será a
primeira pergunta sem resposta. Nem a última).
Não pôde evitar espiar as curvas da
praia vazia antes de caminhar até a escada mais próxima que levasse à
civilização. No bolso, uma rosa vermelha.
Belo texto. Por acaso, hoje, enquanto cheguei sem avisar a um barco ancorado no mar do Bessa, deixado ali por seu dono, pensei no porquê de sentirmos sozinhos. Talvez sejam as nossas cobranças, as nossas referências, pois sabemos do que o verdadeiro Amor é capaz... Continuemos nos amando!
ResponderExcluirObrigada, Daniel. Fico feliz por você ter gostado. É verdade, engraçado nos sentirmos sozinhos às vezes, mesmo quando conscientes de que somos um. Como diria Christopher McCandless, "a felicidade só é real quando compartilhada"... Mesmo plenos, em paz, na imensidão de nós mesmos, que seríamos sem dar e receber sorrisos... Sem dar e receber amor?
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