quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Simone de Beauvoir e eu

Quinta-feira. Dia escolhido aleatoriamente para a publicação de crônicas e contos no blog de uma estudante de jornalismo que reluta a adaptar-se ao mundo virtual. A jovem tem, guardados em uma caixa qualquer, diversos textos rabiscados, ao longo de sua vida, em bloquinhos, provas antigas, guardanapos de restaurantes e cafés e, não raro, nos cantos das páginas de livros escolares e textos acadêmicos. 

Ah! Como acha entediante transformar qualquer coisa em html (ou seja lá qual for a linguagem adequada para o virtual). Parece que vai-se embora boa parte de suas palavras quando elas saem do papel. Perdem o charme, a poesia. Antes não fossem lidas, ela pensa. Mas logo sente pena de quem fora ontem ao escrevê-las. Que pensaria dela, hoje, a criança que fora, se não compartilhasse com o mundo as palavras que brotaram do que tanto a sensibilizara à época? De solidão padeceriam o papel e o pensamento esquecidos. 

Decidida a não permitir que tal acontecesse, tornou à caixinha, separou uns papeis, mas frustrou-se. Nenhuma entre aquelas emoções transcritas traduzia seu atual estado de espírito. Não publicaria qualquer coisa que não a sensibilizasse, aqui, agora. Partiu então para o papel. Percorreu algumas linhas com o lápis. Quantas até aqui? Foi quando revelou-se, subitamente, o estado de seu espírito: sem querer falar, ele queria ouvir.

Largou o lápis, buscou o livro. Quem lhe falou foi Simone de Beauvoir. E elas compartilharam a tarde, as angústias, e discutiram a "Moral da Ambiguidade":

"Existir é fazer-se carência de ser, é lançar-se no mundo: pode-se considerar como sub-homens os que se ocupam em paralisar esse momento original; eles têm olhos e ouvidos, mas fazem-se desde a infância cegos e surdos, sem amor, sem desejo. Essa apatia demonstra um medo fundamental diante da existência, diante dos riscos e da tensão que ela implica; o sub-homem recusa essa paixão que é a sua condição de homem, o dilaceramento e o fracasso deste impulso em direção do ser que nunca alcança seu fim; mas com isso, é a existência mesmo que ele recusa".

A estudante alcançou a inspiração que lhe faltava. Simone, por sua vez, voltou à vida por um momento; ganhou nova oportunidade de se revelar. Viram-se felizes, uma em vida, outra na eternidade, pelo deleite dos encontros que a leitura proporciona.

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